Tempo rico em gestos de fraternidade e convites de solidariedade
Certos
sinais são importantes para fecundar o sentido que sustenta a vida.
Vivemos um tempo especial. O Natal é rico em sinais, com uma força que
vem da beleza, dos gestos de fraternidade e dos convites para
compromissos de solidariedade. De novo, neste tempo, as praças atrairão
multidões pela singularidade de sua ornamentação, com iluminações
criativas, muita gente, novidades, festa.
As casas
também são enfeitadas. Lojas e shopping centers recebem especial
tratamento de beleza. Papai Noel ganha um destaque fora do comum, um
realce que merece preocupação. O que acontece quando crianças entendem o
Natal apenas como tempo de Papai Noel? O perigo se manifesta quando o
sentido dessa figura [Papai Noel] se reduz ao interesse de ganhar um
presente.
O sonho
de ser presenteado pelo velhinho encantado é também um sinal que possui
força de evocações. Mas esse sinal terno do Papai Noel não remete, pelo
menos de forma mais direta, às raízes do sentido do Natal. Mais
importante que entender que é tempo de ganhar presente, até com riscos
de alimentar alguma mesquinhez, o que vale é aprender a lição de que o
bom velhinho nasceu da tradição narrada a respeito de São Nicolau, bispo
de Mira, na Lícia, hoje parte da Turquia.
O
destinatário mais importante dos presentes era o mais pobre, aquele que
também tinha o direito de experimentar alegrias, nascidas de gestos de
solidariedade. Pode-se imaginar a revolução de valores que viveríamos
caso fosse resgatado esse entendimento de Papai Noel. O Natal não seria
tempo de se receber presentes, mas de oferecer e repartir mais. Nesta
direção está o horizonte largo e de inesgotável riqueza presente no
sinal mais importante deste tempo: o presépio.
As lições
do presépio, entendidas e praticadas, ajudam a livrar, homens e
mulheres, dos caminhos que estão desfigurando a sociedade. São
ensinamentos que precisam ser resgatados nas praças, nas igrejas, nas
casas e em todo lugar. A tradição dos presépios nasce em 1223, quando,
depois da aprovação da Regra dos Frades Menores, São Francisco de Assis
foi para o eremitério de Greccio (Itália), com o propósito de ali
celebrar o Natal do Senhor. O santo italiano disse a alguém que queria
ver, com os olhos do corpo, como o Menino Jesus, escolhendo a
humilhação, foi deitado numa manjedoura. Assim, entre o boi e o jumento,
foi celebrada a Santa Missa de Natal, ainda sem estátuas e pinturas.
Esse acontecimento foi a inspiração para, mais tarde, o Natal ser
representado por meio do presépio, que simboliza a Encarnação de Jesus
Cristo, o Verbo de Deus. A retratação do amor misericordioso de Deus na
Encarnação do Filho Amado, o Redentor, no presépio, faz desta arte, nas
mais diversas modalidades e com a inteligência de criatividades
interpelantes, um ensinamento da mais alta importância. O presépio se
torna assim um patrimônio da cultura e da fé popular. Esta retratação
remete, pois, ao núcleo mais genuíno do sentido autêntico do Natal. O
presépio, pela arte e pela beleza, mesmo pela simplicidade e pobreza,
tem força para propagar o Evangelho com um entusiasmo singular, capaz de
atrair toda atenção para Jesus, a Pessoa que é a razão insubstituível
das festas natalinas.
A arte do
presépio, de miniaturas a imagens em tamanho normal, com a riqueza dos
personagens, da singeleza nobre das figuras de José e Maria venerando o
Menino Deus, pode e deve tocar os corações. A celebração do Natal se
torna consequentemente uma festa da interioridade sem eliminar,
absolutamente, o que luzes, sons e enfeites significam na beleza amorosa
deste tempo. Não se pode abrir mão do presépio, sinal que remete a
Cristo.
Jesus
deve ser e estar no centro do Natal, sem prescindir de tantas outras
coisas que compõem e dão graça especial a este tempo. Vale recuperar e
investir na armação de presépios, nas casas, nas igrejas e nos lugares
públicos. Uma oportunidade para os pais exercerem a catequese dos
filhos, reavivando no próprio coração as lições insubstituíveis
aprendidas com Cristo. Assim, o tempo do Natal, respeitando seu genuíno
sentido, torna-se época especial de aproximação. Passa-se a viver um
encontro que transforma corações e superam-se descompassos como a
corrupção e a mesquinhez de ter só para si. O presépio ajuda a dar
estatura a quem só tem tamanho, fazendo brotar a sabedoria emoldurada
por serenidade, um presente para quem contempla esse sinal e aprende o
sentido de sua lição.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Canção Nova
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